E se
fosse o Feliciano pregando em uma passeata gay?
O deputado e pastor Marco Feliciano se envolveu em mais
uma confusão. Mandou os guardas levarem algemadas as meninas que protestavam e
se beijavam durante um culto religioso que liderava. As meninas alegam que
foram agredidas longe das câmeras, e apelaram à vitimização:
Havia outros casais se beijando no meio do culto, casais
heterossexuais, e não houve problema. Nosso beijo não foi obsceno e nosso
protesto era de poucas pessoas. Não fizemos barulho e guardamos os cartazes.
Beijar não é crime. Ele nos chamou de “cachorrinhas”. Fiquei em choque,
indignada. Não acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo. Não esqueço que
ele disse que nossas famílias deveriam ter vergonha “dessas criaturas”— disse
Yunka, que explicou que o beijo era de protesto, mas também de namoro.
Se foram de fato agredidas, isso é absolutamente
condenável, não resta dúvida. Mas esse episódio mostra, uma vez mais, quem são
os mais intolerantes nessa história toda. Dica: não parecem ser os evangélicos.
Para começo de conversa, é importante ressaltar que pegar
Marco Feliciano como ícone de um movimento dito “conservador” é conveniente
para o movimento gay. É caricato demais. Um espantalho fácil de derrotar.
Muitos repudiam o movimento gay (não confundir com os gays em si) e, ao mesmo tempo,
repudiam o pastor também.
Em segundo lugar, não era um simples beijo inocente como
as garotas dão a entender. Foram lá para isso, para chocar, para prejudicar o
culto religioso, para avacalhar com a liberdade dos crentes. Grande tolerância!
O exercício hipotético que podemos fazer é o seguinte:
qual seria a reação dos membros do movimento gay se o Feliciano e seus crentes
fossem nas passeatas gays com Bíblias nas mãos, gritando que aqueles pecadores
vão arder no inferno, e tentando convertê-los na marra durante a festa? Pois é.
Alguém realmente acha que a reação seria pacífica e
tolerante? Piada de mau gosto. Muitos do movimento gay já cansaram de
demonstrar que se julgam acima das leis, que podem subir em mesa no Plenário
para impor no grito suas ideias, que podem ridicularizar e até tocar no pastor
durante um voo comercial, que podem hostilizar passeatas tranquilas de meia
dúzia de membros da TFP.
Infelizmente, o movimento gay não parece mais lutar por
direitos, e sim por uma agenda coletivista, autoritária e intolerante. São os
“fascistas do bem”. Julgam-se detentores de uma causa tão nobre que não enxerga
mais indivíduos do outro lado, e não quer saber de limites, nem mesmo os legais.
Marco Feliciano não me representa. Mas representa
milhares de eleitores e milhões de crentes evangélicos, que merecem respeito,
especialmente durante seus eventos religiosos. O movimento gay precisa entender
isso. Caso contrário, vai apenas prejudicar os gays que querem apenas preservar
sua liberdade individual, sem, todavia, impor essa agenda política de
intolerância.
O movimento gay é contra todo tipo de preconceito, menos
se for contra os religiosos. Assim não dá.
Comentário Rodrigo
Constantino
Colunista da revista Veja.
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