Abuso espiritual, como não ser uma vítima 1ªparte
Fonte J. Dias
Definição do termo
Abuso espiritual é o uso da posição de liderança ou do
poder para seduzir, influenciar e manipular as pessoas a fim de alcançar
interesses próprios. Os praticantes do abuso espiritual são muito hábeis para
passar a impressão de que o que querem é do interesse de Deus e da sua obra
quando, na realidade o que buscam é seu próprio interesse.
O evangelho "barato", pregado atualmente por
algumas igrejas gerou um grande número de pastores, bispos, apóstolos e lideres
que não medem consequências para alcançar seus objetivos. Esse mesmo estranho
evangelho também permite a abertura de igrejas por pessoas totalmente despreparadas
que se auto- intitulam pastores.
Geralmente eles são oriundos de alguma igreja onde não tiveram oportunidade no
ministério. Existem também os que estão interessadas apenas em conseguir
recursos financeiros, e exercer poder. E por último existem os que são servos
de Deus sinceros, mas por não possuírem qualificação ou chamado para o cargo,
são inseguros e essa insegurança é disfarçada por um autoritarismo exacerbado.
O certo é que a maioria deles são danosos aos membros de sua congregação, gerando um
grande número de pessoas feridas e decepcionadas com o evangelho.
CONVITE AO ABUSO
As igrejas são constituídas num sistema hierárquico que
consiste num verdadeiro convite ao abuso religioso. Esse tipo de regime
autocrático centrado na figura carismática do pastor predomina nas igrejas mais
novas, em especial nas pentecostais e neopentecostais surgidas nos últimos
trinta anos. Claro que não podemos generalizar, pois nesse meio tempo também
surgiram igrejas sérias, fundadas por homens de Deus, com único objetivo de
pregar o verdadeiro evangelho e ganhar almas para o Reino de Deus.
O pastor Paulo Romeiro escreveu no livro
"Decepcionados com a Graça": “Em termos de governo, o
neopentecostalismo verticalizou a
igreja. O líder forte no topo da pirâmide, que não presta contas a ninguém, que
toma decisões sozinho em questões financeiras e doutrinárias, acaba tirando das
pessoas a oportunidade de funcionarem como um corpo, como deve ser a igreja. Em
tais circunstâncias, os abusos se multiplicam. Alguns líderes religiosos têm
dificuldade de administrar o poder”.
Por ter uma organização mais democrática, com
estabelecimento de conselhos e assembleias, as igrejas protestantes históricas
são um pouco menos tentadas nessas áreas, embora não estejam imunes.
CARACTERÍSTICAS DO ABUSO ESPIRITUAL
Na maioria das vezes o abuso espiritual se origina por
posições doutrinárias anti bíblicas. Mas ele ocorre também porque os interesses
pessoais de um líder, ainda que legítimos, são satisfeitos de maneira
ilegítima.
Sistemas religiosos espiritualmente abusivos são comumente
descritos como legalistas controladores mentais, religiosamente viciadores, e
autoritários. Apresenta as seguintes características:
LIDERANÇA AUTORITÁRIA
A característica mais evidente de um sistema religioso
abusivo, ou de um líder abusivo, é a ênfase excessiva em sua autoridade. Normalmente
o grupo se diz ter sido estabelecido diretamente por Deus, e, portanto, seus
líderes se consideram como tendo o direito de comandar seus seguidores.
Em Mateus 23:1–2 Jesus disse que "na cadeira de
Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus", uma posição de
autoridade espiritual. Ainda que outros termos sejam usados, essa posição, nos
grupos abusivos, é de poder, e não de autoridade moral.
Àqueles que se submetem incondicionalmente, são
prometidas bênçãos espirituais. A eles é dito que devem se submeter
completamente, sem o direito de questionar os líderes; se os líderes estiverem
errados, isso é problema deles com Deus,
e Deus ainda assim abençoará àqueles que se submetem incondicionalmente.
PROIBIÇÃO DE CRÍTICAS
O sistema religioso, por não ser baseado na verdade, não
pode permitir questionamentos, dissensões, ou discussões aberta sobre questões.
A pessoa que questiona se torna o próprio problema, ao invés da questão que ela
levantou.
As resoluções sobre qualquer questão vêm diretamente do
topo da hierarquia, que são passadas sem abertura para qualquer indagação. Qualquer tipo de questionamento é
considerado como desafio à autoridade, ou rebelião.
O pensamento autônomo é desencorajado, sob a alegação de
que ele leva à dúvida, que por sua vez é vista como sendo falta de fé em Deus e em seus líderes ungidos.
Desse modo, os seguidores procuram controlar seus próprios pensamentos, por
medo de que possam estar questionando Deus.
APARENCIA EXTERNA
Tais lideranças procuram sempre manter uma aparência de santidade.
A história do grupo ou organização geralmente é distorcida para dar a impressão
de que têm um relacionamento especial com Deus.
O caráter duvidoso de tais lideranças é negado ou
encoberto para que sua autoridade não seja questionada, e para manter as
aparências. Padrões legalistas de pensamento e comportamento, impossíveis de
serem mantidos, são impostos aos membros.
O fracasso em manter tais padrões é usado como constante
lembrete de que eles são inferiores aos líderes, e, portanto devem se submeter
a eles. Apenas uma imagem positiva do grupo é apresentada àqueles que não fazem
parte dele, porque a verdade sobre o sistema religioso abusivo seria obviamente
rejeitada se fosse conhecida.
Os líderes, normalmente, mantêm segredos que não divulgam
a suas congregações. Esse sigilo está baseado na desconfiança geral dos outros,
porque o sistema é falso e não pode resistir a escrutínios.
DESEQUILÍBRIO
Os grupos abusivos têm de se distinguir de todos os
outros grupos religiosos para que possam alegar serem únicos e especiais para
Deus.
Isso normalmente é feito através de uma ênfase exagerada
em posições doutrinárias menos centrais, através de legalismo extremo, ou uso
de métodos peculiares de interpretação bíblica.
Dessa forma, suas conclusões e crenças são exibidas como
prova de que são únicos e especiais para Deus. Em Mateus 23, Jesus nos dá uma
importante descrição dos líderes espirituais abusivos.
Em Gálatas, Paulo argumenta contra aqueles que queriam
impor um cristianismo legalista, subvertendo a mensagem do evangelho. Jesus
Cristo era Deus encarnado, a segunda Pessoa da Trindade, o Criador do universo,
mas não usou essa autoridade para subjugar seus discípulos, para colocá-los sob
o jugo de regras e regulamentos legalistas.
Nem tampouco Jesus procurava manter as aparências
externas. Aos fariseus legalistas, Jesus aplicou as palavras de Isaías:
"Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E
em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mt.
15:9).
Jesus não era paranoico como os líderes abusivos, seu
ministério era transparente ao publico (Jo.18:19–21), não tinha nada a
esconder. Jesus não só criticou os líderes religiosos por suas doutrinas
errôneas (Mt. 15:1–9; 23:1–39; etc.), mas também, quando criticado, ele não os
silenciou, mas deu-lhes respostas bíblicas e racionais às suas objeções (Lc.
5:29–35; 7:36–47).
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