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"Os que confiam no Senhor são como monte de Sião, que não se abalam mas permanecem para sempre"

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Entrevista Com a Autora do livro Ferida em Nome de Deus



O livro narra histórias de cristãos que estão muito machucados emocionalmente e tiveram a sua fé abalada pelo convívio com líderes abusivos, que passaram dos limites em seu relacionamento com seus liderados. São histórias, acredito, com as quais muitos poderão identificar-se, porque o problema do abuso espiritual parece espalhar-se pela comunidade dita evangélica no Brasil.

Para quem ele foi escrito?

Eu escrevi o livro, em primeiro lugar, para mim mesma. Porque eu precisava de respostas. Eu não conseguia entender por que amigos que, antes eram tão próximos de seus pastores, de uma hora para outra passaram a detestá-los e a falar mal deles. Eu precisava entender o que tinha dado errado naquele convívio. Mas entendo que o livro também foi escrito para esses irmãos feridos, como uma espécie de registro de suas experiências, e para líderes religiosos, que podem se ver retratados nas histórias. 

Por que escrever um livro que trata de um assunto tão delicado para a igreja evangélica atual? É uma espécie de autobiografia? 

Não, não é uma autobiografia, embora eu conte alguns detalhes de minha experiência de fé. Creio que decidi escrever por ver o estado em que ficaram esses irmãos. O abuso pastoral levou muitos deles à lona, eles perderam o chão. Passaram a questionar a fé, a estrutura da igreja - o que não deixa de ser uma boa coisa - a veracidade da Bíblia e a autoridade pastoral de forma generalizada. A maioria só conseguiu recobrar o fôlego depois de receber a ajuda de terapeutas.

Como se deu o processo de pesquisa para o livro, você entrevistou outras ovelhas feridas?

Fiz muitas entrevistas pessoais com os feridos e também com pastores isentos, que analisam o fenômeno do abuso espiritual à luz de suas experiências pessoais e da Bíblia. Entrevistei também psicólogos, filósofos e sociólogos para dar maior profundidade à análise do problema.

Quais foram os seus sentimentos ao colocar no papel sua própria experiência e de tantas outras pessoas? 

Houve dias em que fiquei muito triste ao relembrar como era o convívio fraterno em nossa antiga igreja e o pouco que tinha restado dele. Houve entrevistas em que eu chorei junto com os feridos e fiquei morrendo de raiva dos fatos que estavam  vindo à tona. Eu não acreditava no absurdo daquelas histórias. Eu me senti incrivelmente indignada e não entendia como aquelas pessoas, todas adultas e instruídas, tinham concordado em sofrer tais humilhações, em nome de Deus, e ainda assim permanecer caladas.

A igreja brasileira tem crescido muito nos últimos anos. Você vê alguma correlação entre esse fato e o aumento nos casos de feridos? Qual o principal fator que leva as pessoas a se ferirem?

Sim. O crescimento numérico dos ditos evangélicos e de pastores sem uma boa formação bíblica, ética e cultural colabora muito com isso. Creio que o tipo de teologia que está se pregando atualmente, que se concentra nas páginas do Antigo Testamento e delas tira lições distorcidas ou meias-verdades, é um fator importante para a disseminação do abuso.

A seu ver, existe solução para o problema? O que a igreja evangélica brasileira deveria fazer para que os fiéis não mais fossem feridos?

Não tenho todas as respostas, penso que dificilmente alguém as terá. Eu apenas aprendi, depois de muito ouvir as pessoas, feridas ou não, que buscar maturidade espiritual e assumir responsabilidades pelas próprias decisões de fé ajuda muito a evitar o abuso. Parar de procurar a ajuda de gurus evangélicos também. Como diz o Eugene Peterson, as pessoas adoram ver o pastor brincar de Deus.


Marília de Camargo Cesar é jornalista, com passagens pela TV Globo, principais jornais de economia do Brasil e Il Sole-24 Ore, maior jornal de economia e negócios da Itália. Atualmente colabora com o Valor Econômico. É casada, tem duas filhas e mora em São Paulo.

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Feridos em nome de Deus

Ao mesmo tempo em que percebo um certo aumento de pessoas abandonando igrejas por inúmeros motivos, certos ou errados, também vejo o crescimento de pessoas que, na maioria sem senso crítico acurado, se entregam literalmente de corpo e alma para estruturas religiosas que servem de impérios pessoais.

O que está acontecendo eu não sei. Mas, sei que no meio dessa “zona” há muitos que são feridos e magoados de formas diversas. O modelo hierárquico instalado nas igrejas autoriza homens travestidos de “ungidos” a, em nome de Deus, causar sofrimentos em crentes ingênuos, ou ignorantes, ou obedientes, ou passivos o suficiente para delegarem suas vidas nas mãos de crápulas cheios daquelas boas intenções.
É nesse contexto de abuso espiritual que a jornalista Marília de Camargo César traz relatos de histórias de pessoas machucadas por seus líderes, por suas igrejas e por pessoas a quem tinham por “santas”, em seu livro “Feridos em nome de Deus“.

Para quem conhece bem o cenário evangélico no Brasil, tomar conhecimento de histórias de pessoas que foram/estão feridas por causa de limites ultrapassados na relação liderança/liderados não soa nada novo; deveria soar preocupante. Mas, infelizmente esse tipo de abuso só vem ganhando maiores incidências. O livro vem em momento oportuno e urgente. É preciso despertar as pessoas com uma fé frágil e manipulável para a realidade dos sistemas religiosos a que estão inseridas.
Marília de Camargo César, de forma bem sóbria e responsável, traz em seu livro o resultado de entrevistas e pesquisas que procuram apontar um alerta para a igreja: pessoas estão sofrendo abusos e sendo violentadas por líderes eclesiais. E essa violação vai da psique ao físico da vítima de “homens e mulheres de Deus” cujo comprometimento maior é com o poder que exercem como tais.

Não pense que este livro não se encaixa a você porque acha que não é um ferido em nome de Deus ou uma vítima de abuso espiritual. A pessoa que sofre essa moléstia dificilmente irá perceber a tempo de buscar ajuda tanto na literatura quanto em ombros e conselhos sábios. Então, principalmente para quem pode ajudar alguém que esteja nessa triste situação é que a leitura faz-se importante.
Vale ressaltar a imparcialidade no trato com o tema. Embora a tendência seja execrar os responsáveis por infligir autoridade doentia sobre os crentes, a escritora mostra também o outro lado; muitas vezes o líder que abusa da dedicação, lealdade e fé de um membro, é antes de todos vítima do próprio sistema. Muitas vezes ele não perceberá que está ferindo pessoas e pisando em cima dos membros em nome de um ministério bem sucedido. Não são todos que têm a cara-de-pau de abusar conscientemente dos membros subordinados.

Se você é líder, seria de grande valia refletir nisso e ler os relatos de pessoas que chegaram ao ponto de abandonar Deus por causa de líderes cujo ministério não tinha nada de pastorear pessoas.


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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O Evangelho segundo Eu P


 “Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” – Gálatas 1.9

Em meu trabalho, descobri que uma colega é evangélica, membro de uma igreja neopentecostal. Em uma conversa cotidiana, perguntei-lhe de qual versão da Bíblia ela gostava, e tive uma grande surpresa: ela frequenta a igreja há 13 anos e disse não ter uma Bíblia.

Eu perguntei: “e na igreja, como você faz?”, e ela respondeu: “na igreja a gente não usa”.

Muito triste isso, porém é a realidade  de muitas igrejas no cenário evangélico nacional. O local até se denomina “igreja”, mas ao entrar as músicas, a forma do culto e principalmente o sermão não se enquadram nas essências, nos valores da tradição cristã.

Incrivelmente, a Bíblia, quando citada, o é em textos isolados e com interpretações pragmáticas seguidas de segundas intenções. O ambiente é carregado de emoção, de um senso místico e com propósitos mágicos, e lamentavelmente em muitos desses ambientes não se prevalece a verdade,  ou seja, este é o cenário que muitos chamam de “igreja”, porém diante da revelação bíblica podemos chamar esse espaço cúltico de muitos nomes, menos de igreja.

A ênfase de hoje é a prosperidade, é o crescimento, é a vitória. Porém, essas afirmações não se enquadram com a realidade do país, realidade  onde há a injustiça, a corrupção, a fome, a violência, as drogas, tudo o que representa a degradação da vida e dos seres humanos.

Vivemos uma crise de humanização, pois os valores da vida foram trocados pelos valores materiais. Lamentavelmente, a igreja também entrou nesse processo crítico, pois trocou a sua espiritualidade pelo entretenimento, deixando de lado o seu papel de luta pela justiça e pela promoção da vida para se unir aos valores mundanos. Para isso, não mediu esforços para se tornar uma fonte de realização de desejos e favores humanos.

É preciso afirmar aqui que é sim papel da igreja denunciar o  pecado, as injustiças e a degradação da vida humana, pois Jesus afirmou que o verdadeiro pastor dá a vida pelas ovelhas. É triste ver que a igreja, através de suas principais lideranças nacionais, deixa de lado as essências do cristianismo para se unir aos valores do mundo.

Hoje vemos pastores utilizando tempo de tv, rádio para se autopromover e para a realização de seus desejos megalomaníacos, através da nítida exploração da ignorância e da simplicidade do povo evangélico brasileiro. Quando ouço de alguém que frequenta uma igreja neopentecostal há 13 anos que não possui uma Bíblia porque ela não é usada na igreja, além de indignado me vem uma enorme preocupação: que igreja está sendo construída?

Os neopentecostais afirmam que o Brasil será do Senhor Jesus, mas como será se não há a pregação do verdadeiro Evangelho de Cristo?

Paulo nos afirma que a fé vem pelo ouvir, e pelo ouvir do Evangelho. E ainda afirma que como haverá os que creem se não houver os que pregam?

O que vemos hoje é o evangelho segundo o Malafaia, segundo Estevam Hernandes, segundo Valdemiro Santiago, segundo o Renê Terranova, segundo o R. R. Soares, ou seja, o evangelho segundo “eu mesmo”, o evangelho que enaltece personagens, que enaltece os desejos humanos, que tem sede de vaidades, de poder e das glórias humanas.

Isso é facilmente identificável, até mesmo por um leigo, se fizer o simples exercício de analisar as ideias apresentadas por muitos pregadores à luz do texto bíblico.

Porém, é preciso dizer que muitos desses líderes estão desestimulando o povo a ler e principalmente a desenvolver e exercer o seu senso crítico.

Silas Malafaia, em mais um vexame televisivo, trouxe Mike Murdock para afirmar ao povo brasileiro que devemos “negociar com Deus”. Esse é o discurso do evangelho segundo eu mesmo, o evangelho que atribui a Deus o papel de servo e não de Criador e Senhor.

É preciso combater esse evangelho segundo eu mesmo, e é preciso que cada líder, cada cristão tenha um cuidado, pois esse evangelho do Eu é tentador. É preciso que assumamos nosso papel de servos inúteis e venhamos a adotar o discurso de João Batista:

“É necessário que ele cresça e que eu diminua.” – João 3.30

Que tudo o que venhamos fazer em prol do Reino de Deus não renda lucros nem aplausos, mas sim o reconhecimento de que “a causa de não sermos consumidos é que a misericórdia de Deus se renova em nossas vidas todos os dias”.

A Deus somente a Deus, toda a honra e toda a glória.

Paulo Siqueira


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