Cobertura
espiritual: Existe Base Bíblica?
Nestes últimos dias, os quais a Palavra
de Deus nos alertou que seriam muito difíceis e que um de seus sinais é de que
os homens seriam “egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos,
desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família,
irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores,
precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo
aparência de piedade, mas negando o seu poder” (2 Tm 3:2-5), estamos vendo uma
tremenda proliferação, sem precedentes, de denominações, facções e “tribos” no
meio evangélico, cada uma andando em sua “visão” ou direção, algumas até
declarando que são os portadores da única “visão” válida de Deus para os
últimos dias.
Neste cenário aterrador e cheio de
enganos e falsas doutrinas, soergueu-se uma expressão no meio cristão que é chamada
de Cobertura Espiritual, a qual quer dizer, em termos bastante simplórios, que
uma determinada pessoa ou ministério deve andar debaixo da “Cobertura”, ou
proteção, ou direção espiritual de outra pessoa ou ministério. Muitos dos
grandes “líderes”, têm se utilizado deste conceito de “Cobertura Espiritual”, o
qual, como veremos no presente artigo, está sendo mal utilizado e, pior, tem
servido apenas para que uns poucos homens dominem sobre muitos, dirigindo a
vida das pessoas de forma até mesmo abusiva e fora da Palavra.
A primeira Palavra que nos utilizaremos,
para embasar a presente tese, será o texto de Isaías 30, verso 1, vejamos: “Ai
dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomaram conselho, mas não de mim! E que
se cobriram com uma cobertura, mas não do meu Espírito, para acrescentarem
pecado a pecado!”
Vejamos o conceito que está explícito no
texto de Isaías, Deus considera como rebeldes os filhos que buscam uma
cobertura diferente daquela que Ele gostaria de dar, através de Seu Espírito,
diz de pessoas que buscaram conselho não do Senhor, mas de simples homens ou
mulheres. Por isso, a Bíblia diz que eles acrescentaram pecado sobre pecado, ou
seja, erro sobre erro. Quando buscamos simplesmente o conselho de outros
homens, sem buscar o conselho supremo de Deus, através do Espírito Santo,
acontece que os erros que existem na vida daquele homem, passam a ser os erros
que vão pesar sobre a nossa vida. Quer um exemplo disso? Imagine um pastor que
busque “cobertura espiritual” de outro pastor que seja adepto de uma doutrina
ou direção que não é de acordo com a Palavra, os erros da sua “Cobertura” vão
ser reproduzidos com “integridade” em seu ministério e na direção que ele vai
passar para os seus liderados. Isto acontece como um efeito cascata, onde as
pessoas da ponta não têm o direito de questionar a “direção” de seu líder,
tendo em vista que o conceito dominante é de que qualquer pessoa que não
execute sem questionar é considerada imediatamente como rebelde e insubmissa.
Por isso, ao buscarmos uma cobertura que não seja a do Espírito Santo, estamos
apenas acrescentando pecado sobre pecado, ou erro sobre erro.
Por causa deste engano de procurar a
cobertura espiritual de homensou mulheres imperfeitos e impuros, passamos a temer muito
mais estes, do que a Deus e incidimos no que está escrito no verso 13, do
capítulo 29 de Isaías: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima
de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração se afasta
para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste {só} em mandamentos de
homens, em {ou que aprendeu de cor;} que foi instruído;” Daí, acabamos andando
apenas de acordo com os mandamentos humanos e, embora pareça que estamos
honrando ao Senhor com nossos lábios, na verdade estamos honrando e servindo muito
mais à criatura do que ao Criador que é bendito eternamente, motivo pelo qual
Deus nos entrega a um sentimento perverso e às paixões infames (Rm 1:25-26). Talvez
seja por isso que estes homens da cobertura espiritual estejam tão preocupados
em receber com tanta voracidade os dízimos e as primícias de seus comandados,
para construírem seus castelos e viverem regaladamente com o dinheiro que
deveria ser ministrado às viúvas, aos órfãos e aos pequeninos do Senhor.
Vejamos agora um fato sobre a história
de Moisés, quando o mesmo estava sobrecarregado ministerialmente, no livro de
Números, capítulo 11, vemos Moisés reclamar para Deus no verso 14: “eu sozinho
não posso levar a todo este povo, porque muito pesado {é} para mim.”. Ao que
diz o Senhor a ele nos versos 16 e 17: “E disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me
setenta homens dos anciãos de Israel, de quem sabes que são anciãos do povo e
seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se porão
contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que
{está} sobre ti, e {o} porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo,
para que tu sozinho {o} não leves.” É
muito importante verificarmos o que está acontecendo nestes versos, pois Deus
não disse a Moisés que constituísse os setenta anciãos e lhes desse cobertura
espiritual, pelo contrário, Deus disse que iria TIRAR uma parte do Espírito
Santo que estava sobre Moisés e Ele mesmo (Deus) o colocaria sobre os setenta,
por causa disto, eles seriam também constituídos como ministros no meio do
povo, para dividirem a carga de Moisés. Na sequência deste episódio, o verso
25, demonstra bem esta questão: “Então, o SENHOR desceu na nuvem e lhe falou;
e, tirando do Espírito que {estava} sobre ele, {o} pôs sobre aqueles setenta
anciãos; e aconteceu que, quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram;
mas, depois, nunca mais.”. Um fato interessante é o caso de dois homens haviam
ficado no Arraial e que começaram a profetizar, ao ver isto, um moço do arraial
foi dar notícia a Moisés, ao que Josué pediu para que este os proibisse de
profetizar, vejamos a maravilhosa resposta dada a esta questão no verso 29:
“Porém Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do
SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!”.
Um fato que devemos levar em
consideração com relação a este episódio é de que naquele tempo o Espírito
Santo ainda não havia sido derramado sobre toda a carne, como profetizado pelo
profeta Joel, ainda era dado o Espírito sob medida, prova disso é o texto de
João que fala a respeito de Jesus: “Porque aquele que Deus enviou fala as
palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.” (Jo 3:34) E,
ainda, o texto do livro de Atos dos Apóstolos: “Mas isto é o que foi dito pelo
profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito
derramarei sobre toda a carne.
Tais textos bíblicos comprovam a uma,
que o Espírito Santo seria derramado sobre toda carne, a duas, que todos (não
só os cobertores espirituais) iram profetizar, ou seja, poder falar das coisas
de Deus e compreender “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e
em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;” (Colossenses
1:26).
É possível que algum desses “apóstolos”
ou “líderes” modernos poderiam argumentar em cima do texto de Números 12,
versos 6 a 8, que Deus tinha um carinho especial com Moisés que falava com ele
face a face, talvez algum desses líderes da “Cobertura Espiritual” tenham a
pretensão de invocar este detalhe da história para dizerem que Deus fala com
eles de modo especial e com seus “liderados” apenas em sonhos. Ora, para
aqueles que têm tal pretensão de se acharem melhores do que os demais irmãos
basta, lembrarmos aquele texto de Apocalipse segundo o qual todos aqueles que
foram amados por Jesus e lavados por seu sangue, tiveram a honra de serem
feitos “reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o
sempre. Amém.” (1:6) E, ainda, a profecia que se cumpriu em Cristo, descrita no
livro de Hebreus 10:16: “Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em
seus entendimentos; “.
Outro exemplo do Antigo Testamento de
que não devemos nos colocar debaixo da “cobertura espiritual” de um simples
mortal é a história de Samuel. Quando este ainda era criança e estava debaixo
da cobertura pastoral ou sob os cuidados do sacerdote Eli, ao qual Samuel
servia no Templo, este ouviu a voz do Senhor no momento em que se preparava
para dormir. O interessante é que Deus não falou com o “maioral” espiritual do
Templo, falou com o pequenino Samuel, Eli apenas o orientou em como responder
ao chamado de Deus e assim deveria ser a relação entre aqueles que estão na
posição de pastores e seus liderados. O pior de tudo é que a Palavra de Deus
revelada a Samuel era uma profecia contra a própria casa, ou autoridade, de
Eli. Imaginem hoje em dia uma pequena ovelha chegando-se ao líder máximo de seu
ministério dizendo que Deus lhe falou que sua casa está condenada. Se fosse um
desses pastores modernos, com suas teorias sobre cobertura espiritual, com
certeza ira querer dominar sobre a situação e iria dizer: “Isso não procede,
Deus não falou comigo, você ainda é muito imaturo e não tem o discernimento que
eu tenho para essas coisas.” Enfim, um desses grandes “líderes” da igreja
moderna com certeza usaria de sua “autoridade” para calar a boca do pequeno
profeta.
Talvez você esteja lendo este artigo e
não esteja concordando com nada disso, mas peço que abra sua Bíblia no famoso
Salmo 91, Deus me mostrou que este texto fala exatamente sobre cobertura
espiritual quando afirma: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à
sombra do Onipotente descansará. Direi do SENHOR: {Ele é} o meu Deus, o meu
refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do laço do
passarinheiro {e} da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e
debaixo das suas asas estarás seguro; a sua verdade é escudo e broquel.”
Vejamos que a condição para sermos livres de todos os males descritos no mesmo
Salmo é a de que estejamos não debaixo da “cobertura espiritual” de algum líder
proeminente, nem que estejamos cobertos por pessoas especiais, mas que
estejamos habitando dentro do esconderijo do Altíssimo e debaixo de sua sombra.
Somente alguém que seja maior do que todo o universo é que pode cobrir nossas
vidas, deixando-nos tranquilos e protegidos. Alguém se lembra da expressão:
sombra e água fresca? Fico maravilhado com o grande final deste salmo: “Pois
que tão encarecidamente me amou também eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro,
porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; {estarei}
com ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de
dias e lhe mostrarei a minha salvação.”
Nós precisamos aprender a conhecer e a
glorificar o Nome que é sobre todo nome. Diante de tais fatos e fundamentos,
defendo veementemente que a expressão “cobertura espiritual” para definir o
fato de uma pessoa estar debaixo da autoridade de outra pessoa que lhe seja
mais proeminente, está absolutamente equivocada e tem produzido muitos males
para o Corpo de Cristo. Talvez alguém defenda ideia diferente, dizendo que as
pessoas devem estar debaixo da cobertura de outra pessoa bem sucedida
ministerialmente, pois o “manto espiritual” que está sobre o líder, passaria
automaticamente para o liderado. O grande problema disso é que também os erros
e pecados do líder, acabam passando para o liderado, o qual apenas acumula
pecado sobre pecado.
Deste modo, sugiro aos meus cooperadores
que são líderes, pastores, bispos ou apóstolos que, ao invés de querer dominar
sobre os outros, estabelecendo seu estilo e sua “visão” apostólica dos santos
dos últimos dias, simplesmente passem a cuidar do pequeno rebanho do Senhor,
pastoreando as ovelhinhas que andam por aí doentes, descaídas e sem ração.
Mudemos esse termo “cobertura espiritual” para algo como “cobertura pastoral”,
talvez ainda dê tempo de mudar toda essa loucura que entrou no coração dos
homens que deveriam estar servindo na Casa do Senhor, ao invés de estarem
viajando por todos os lados para estabelecerem suas bandeiras, doutrinas e
denominações.
Quero encerrar este estudo lembrando as
palavras do Apóstolo Paulo, em sua carta aos Coríntios: “Porque a respeito de
vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloe que há contendas
entre vós. Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e
eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Está Cristo dividido? Foi Paulo
crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (I Co 1:11-13).
Infelizmente este conceito é sempre esquecido por estes que querem dominar e
mandar na vida de “seus discípulos”, e sempre escutamos aqui e ali, um dizendo
eu sou de Paulo, o outro, eu de Apolo, e outros dizendo eu sou presbiteriano
tradicional, outro renovado, outro assembleiano, batista, videirano, metodista
etc. (são tantas divisões...) Melhor do que meramente pertencer a uma
denominação e estar debaixo do jugo dos homens é ter a firme convicção de que
fazemos parte do Corpo de Cristo e estamos debaixo da cobertura que só o
Espírito Santo pode verdadeiramente nos dar. Acreditem, Ele ainda está no
controle de seu verdadeiro Corpo.
Pr.
Giuliano Miotto
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