O
Evangelho segundo Eu P
“Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo
também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já
recebestes, seja anátema” – Gálatas 1.9
Em meu trabalho, descobri que uma colega
é evangélica, membro de uma igreja neopentecostal. Em uma conversa cotidiana,
perguntei-lhe de qual versão da Bíblia ela gostava, e tive uma grande surpresa:
ela frequenta a igreja há 13 anos e disse não ter uma Bíblia.
Eu perguntei: “e na igreja, como você
faz?”, e ela respondeu: “na igreja a gente não usa”.
Muito triste isso, porém é a
realidade de muitas igrejas no cenário
evangélico nacional. O local até se denomina “igreja”, mas ao entrar as
músicas, a forma do culto e principalmente o sermão não se enquadram nas essências,
nos valores da tradição cristã.
Incrivelmente, a Bíblia, quando citada,
o é em textos isolados e com interpretações pragmáticas seguidas de segundas
intenções. O ambiente é carregado de emoção, de um senso místico e com
propósitos mágicos, e lamentavelmente em muitos desses ambientes não se
prevalece a verdade, ou seja, este é o
cenário que muitos chamam de “igreja”, porém diante da revelação bíblica
podemos chamar esse espaço cúltico de muitos nomes, menos de igreja.
A ênfase de hoje é a prosperidade, é o
crescimento, é a vitória. Porém, essas afirmações não se enquadram com a
realidade do país, realidade onde há a
injustiça, a corrupção, a fome, a violência, as drogas, tudo o que representa a
degradação da vida e dos seres humanos.
Vivemos uma crise de humanização, pois
os valores da vida foram trocados pelos valores materiais. Lamentavelmente, a
igreja também entrou nesse processo crítico, pois trocou a sua espiritualidade
pelo entretenimento, deixando de lado o seu papel de luta pela justiça e pela
promoção da vida para se unir aos valores mundanos. Para isso, não mediu
esforços para se tornar uma fonte de realização de desejos e favores humanos.
É preciso afirmar aqui que é sim papel
da igreja denunciar o pecado, as
injustiças e a degradação da vida humana, pois Jesus afirmou que o verdadeiro
pastor dá a vida pelas ovelhas. É triste ver que a igreja, através de suas
principais lideranças nacionais, deixa de lado as essências do cristianismo
para se unir aos valores do mundo.
Hoje vemos pastores utilizando tempo de
tv, rádio para se autopromover e para a realização de seus desejos
megalomaníacos, através da nítida exploração da ignorância e da simplicidade do
povo evangélico brasileiro. Quando ouço de alguém que frequenta uma igreja
neopentecostal há 13 anos que não possui uma Bíblia porque ela não é usada na
igreja, além de indignado me vem uma enorme preocupação: que igreja está sendo
construída?
Os neopentecostais afirmam que o Brasil
será do Senhor Jesus, mas como será se não há a pregação do verdadeiro Evangelho
de Cristo?
Paulo nos afirma que a fé vem pelo
ouvir, e pelo ouvir do Evangelho. E ainda afirma que como haverá os que creem
se não houver os que pregam?
O que vemos hoje é o evangelho segundo o
Malafaia, segundo Estevam Hernandes, segundo Valdemiro Santiago, segundo o Renê
Terranova, segundo o R. R. Soares, ou seja, o evangelho segundo “eu mesmo”, o
evangelho que enaltece personagens, que enaltece os desejos humanos, que tem
sede de vaidades, de poder e das glórias humanas.
Isso é facilmente identificável, até
mesmo por um leigo, se fizer o simples exercício de analisar as ideias
apresentadas por muitos pregadores à luz do texto bíblico.
Porém, é preciso dizer que muitos desses
líderes estão desestimulando o povo a ler e principalmente a desenvolver e
exercer o seu senso crítico.
Silas Malafaia, em mais um vexame
televisivo, trouxe Mike Murdock para afirmar ao povo brasileiro que devemos
“negociar com Deus”. Esse é o discurso do evangelho segundo eu mesmo, o
evangelho que atribui a Deus o papel de servo e não de Criador e Senhor.
É preciso combater esse evangelho
segundo eu mesmo, e é preciso que cada líder, cada cristão tenha um cuidado,
pois esse evangelho do Eu é tentador. É preciso que assumamos nosso papel de
servos inúteis e venhamos a adotar o discurso de João Batista:
“É necessário que ele cresça e que eu
diminua.” – João 3.30
Que tudo o que venhamos fazer em prol do
Reino de Deus não renda lucros nem aplausos, mas sim o reconhecimento de que “a
causa de não sermos consumidos é que a misericórdia de Deus se renova em nossas
vidas todos os dias”.
A Deus somente a Deus, toda a honra e
toda a glória.
Paulo Siqueira
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