Abuso espiritual, como não ser uma vítima 2ªparte
Tudo pela visão
Líderes que cometem abusos contra os membros de sua
igreja, geralmente estão obcecados por uma visão. Estão convencidos que
receberam uma visão divina, e em nome dessa visão passam por cima de tudo e de
todos.
Quando o líder entende que recebeu uma visão de Deus para
sua igreja, tudo passa a ter valor inferior. Tudo e todos na igreja devem ser
direcionados para a visão do líder. Nada pode ser feito se estiver fora da
visão. Quem não quer participar da visão começa a ser discriminado e colocado
como rebelde. A mais importante missão da igreja, que é pregar o evangelho
começa a ser colocado em segundo lugar. As pessoas que estão na igreja para
receberem cuidados pastorais, vão sendo esquecidas.
Muitas vezes o líder está tão embevecido pela pressa de
incutir na cabeça das pessoas a sua visão que nem nota que está ferindo
pessoas. Começa a separar o “joio do trigo”. Quem aceita a visão é “trigo”,
quem não aceita é “joio”, e passa a ser tratado diante de toda congregação como
rebelde, desobediente e infiel. As humilhações em publico passam a acontecer
naturalmente. Isso é feito para que outros não trilhem o mesmo caminho do
“rebelde”. E assim muita gente se cala com medo das consequências ou por não
ter coragem de desafiar o líder.
MEDO NOS MEMBROS
Outro modo muito utilizado de abuso contra os membros de
uma igreja é colocar o medo no coração das pessoas. O pastor começa a pregar
coisas do tipo: “Se você não der o dizimo, Deus mandará o devorador, o
gafanhoto para destruir o que é seu”; “A rebeldia é como pecado de feitiçaria”
e outras coisas do gênero. O uso de versículos fora do contexto, neste caso é
utilizado constantemente para validar as estranhas doutrinas da liderança.
Também não tem base bíblica à atitude de alguns líderes
que querem prender as pessoas na sua igreja com ameaças de saírem “debaixo de
maldição” se mudar de igreja. Numa igreja saudável com um pastor equilibrado as
pessoas podem mudar para outra igreja sempre que assim o desejarem. A pessoa é
livre para servir a Deus onde se sentir melhor.
COBERTURA ESPIRITUAL
Novas doutrinas difundidas pelo movimento neopentecostal,
também colaboram para o crescimento dos excessos. Uma delas é o ensino sobre
“cobertura espiritual”, que concede ao líder posição de autoridade e
responsabilidade espiritual sobre todos os membros de sua igreja. Quem sair de
sua cobertura fica sem defesas contra o inimigo, Deus sequer ouve suas orações.
Numa igreja saudável, espiritual e emocionalmente
equilibrada, todos os membros oram uns pelos outros, compartilham e dividem os
“fardos” como manda a Bíblia (Gl 6.2). Não é apenas a oração do pastor que tem
validade diante de Deus. Todos somos filhos, então todos estamos sob a cobertura de Deus.
O UNGIDO DO SENHOR
No livro "Feridos em Nome de Deus": “Outro meio
de abuso é o conceito difundido de que o pastor é o “ungido do Senhor”. Este
conceito é do Velho Testamento. Muitas igrejas evangélicas, especialmente as
pentecostais e neopentecostais tratam sua liderança como eram tratados os
profetas do passado, com reverencia intocável. Isso tudo é coisa do Velho
Testamento. No Novo Testamento não há hierarquização, todos somos sacerdotes,
somos nivelados. Há hierarquia no governo eclesiástico, ou seja, o pastor é
autoridade sobre o membro no que diz respeito ao governo da igreja, mas não no
que diz respeito à experiência pessoal com Deus. O pastor não é intermediário
entre o rebanho e Deus, este papel pertence a Jesus, único mediador entre Deus
e os homens. A única mediação que existe é a de Jesus Cristo. Está errada essa
visão do Antigo Testamento de que o pastor é um oráculo profético. Isso não tem
espaço no cristianismo”.
TIPOS DE PASTORES QUE COMETEM ABUSOS
Como já citamos no início desse estudo, existem vários
tipos de pastores que cometem abusos. Vamos comentar aqui sobre os dois tipos
mais comuns, citados no livro "Outra Espiritualidade", pela clareza
como são definidos.
PASTORES-LOBOS - São lobos vestidos de pastores. São
corrompidos, alguns conscientemente, outros sinceramente enganados. Mas
corrompidos na alma, na mente e no coração. Corrompidos no entendimento da
verdade, na relação do sagrado com o divino. São pastores de si mesmos. Homens
que se utilizam da fé e do desespero alheios para alcançar seus próprios
objetivos, servir seus próprios interesses que é: implementar sua visão
particular, desenvolver seu projeto pessoal de poder. São homens que atuam no
ramo da religião, no segmento evangélico, mas que estão absolutamente distantes
do Evangelho de Jesus. Distantes de sua mensagem, de seu espírito, de seu
caráter, de seus propósitos, de seus valores e de seus conteúdos mais
profundos. São os grandes geradores de ovelhas feridas. São os maiores
abusadores do rebanho.
PASTORES-OVELHAS - Estes são ovelhas vestidos de
pastores. São cristãos sinceros e dedicados a obra de Deus, mas que jamais
deveriam ter sido investidos da autoridade pastoral por não terem chamado para
essa função. Homens que pretendem servir a Deus, e o fazem com integridade e
sinceridade ao longo dos anos, mas que nunca foram separados pelo Espírito
Santo, isto é o Espírito Santo jamais os constituiu pastores, foram colocados
por decisão humana. Falta-lhes autoridade divina. Falta-lhes coração e alma de
pastor. Falta-lhes entranhas de pastor. Receberam o cetro, receberam o titulo,
mas não receberam o mais importante, a unção de Deus para o cargo. E essa não
pode ser forjada, inventada ou manipulada. Seriam ótimos crentes, ótimos
pregadores do evangelho, mas são péssimos pastores. Estes geralmente são
inseguros e querendo mostrar sua autoridade, exageram e passam a dirigir a
igreja ditatorialmente, não aceitam interferência em suas decisões e cometem
abusos propositadamente.
AS VÍTIMAS DO ABUSO
Os abusos espirituais continuam acontecendo e vai deixando
atrás de si um enorme número de pessoas que não querem nem ouvir falar em
igreja evangélica. Não é difícil encontrá-los. Alguns formaram comunidades na
Internet para se ajudarem, e muitos estão sendo cuidados em consultórios de
psicanálise. O abuso deixa marcas profundas. Traumas psicológicos, depressão e
até doenças graves são relatadas pelas vitimas.
O abuso religioso é um assunto bem discutido em livros,
revistas e internet, mas que ainda não está esgotado porque as coisas continuam
acontecendo. Muitas publicações foram feitas com o intuito de alertar para
esses males, mas infelizmente poucos são alcançados. Por isso neste espaço
também queremos falar sobre o assunto, já que quanto mais avisos, mais pessoas
podem ser alcançadas.
O abuso Espiritual tem um efeito devastador na vida das
pessoas. Elas normalmente depositam um alto grau de confiança em seus líderes,
os quais deveriam honrar e guardar tal confiança.
Quando essa confiança é traída, a ferida que se abre é
muito grande, até mesmo a ponto da pessoa nunca mais poder confiar em líderes
espirituais novamente, mesmo que eles sejam legítimos.
Além de desenvolverem medo e desilusão com relação a
líderes religiosos, as vítimas de abuso espiritual muitas vezes têm dificuldade
em confiar em Deus. Elas se perguntam, "como é que Deus pode ter permitido
que isso acontecesse comigo? Tudo o que eu queria era amá-lo e servi-lo!"
Muitas vezes, essas pessoas desenvolvem grande rancor,
que se não for tratado, pode estabelecer raízes de amargura e incredulidade com
relação a tudo que seja espiritual.
Para que haja uma recuperação dos males causados pelo
abuso espiritual, é preciso que a vítima entenda o que aconteceu, por que
aconteceu, e como aconteceu. Precisa entender que ela não é a única pessoa
vitimada por esse tipo de abuso. Ela deve procurar grupos de apoio, e ser
contínua e pacientemente ensinada sobre a graça de Deus.
Deixe um comentário
Nenhum comentário:
Postar um comentário