Minhas Almas
Desde os tempos dos apóstolos, vemos pessoas arrastando após
si multidões (At 5:35-37), sem contudo isto referendar sua pregação ou
ministério. O mesmo acontece nos nossos dias.
Uma multidão não referenda um ministério. Muitos seguidores
não significam a aprovação divina para o ministério ou para o obreiro! Sinais,
milagres e maravilhas nada significam, uma vez que falsas religiões os
praticam, e que Jesus foi categórico que muitos que fizeram tais sinais serão
rejeitados no juízo (Mt 7:21-23). O uso de almas como contabilidade ministerial
só revela a falta de escrúpulos do obreiro, sua tentativa forçada de ser
reconhecido e respeitado pelos seus opositores e sua incompreensão ao
verdadeiro sentido de ganhar almas para Deus!
Hoje também é costume se contar almas. Isto é muito feito no
interior das igrejas, onde a quantidade de discípulos atraídos é sinal de
status e a prova definitiva de que Deus está operando naquele lugar, aprovando
o que lá acontece. Quando há qualquer questionamento doutrinário ou
comportamental, alguém logo sai em defesa de seu “ungido” e perguntam quantas
almas o questionador já ganhou; caso ele já tenha ganhado algumas ou muitas,
vamos comparar as quantidades para ver quem tem mais poder, mais autoridade, mais
credibilidade, mais unção...
Eu não me preocupo com quantidade de almas ganhas, porque a
parábola do servo inútil parece ter sido contada pelo Senhor Jesus exatamente
para ilustrar esta situação (Lc 17:7-10). Não importa quantas almas eu já
ganhei ou quantas vou ainda ganhar, pois almas não podem e nem devem ser
computadas em estatísticas de poder ou credibilidade. Mesmo ganhas aos
milhares, o objetivo de ganhar almas jamais poderá ser para o engrandecimento
do pregador, e sim do Reino. Pregar o Evangelho é nossa obrigação; ganhar almas
é tarefa não nossa, mas do Espírito Santo. Assim, quando eu "ganho uma
alma para Jesus" nada mais fiz que simplesmente pregar o Evangelho. Coube
ao Espírito Santo convencer o ouvinte e conduzi-lo a Cristo. Fui apenas um
"moleque de recados". A obra foi totalmente feita por Deus, o plano
de salvação, a vinda do Salvador, Sua morte expiatória e Sua ressurreição. A
mensagem do Evangelho não é minha, nem da minha igreja, nem do meu ministério.
As almas, finalmente, não são ganhas para a nossa glória, mas para a glória de
Deus!
Além disto, há pessoas que não as ganham, mas ajudam almas
ganhas por terceiros a crescer (1 Co 3:1-9). Paulo não vê diferença entre um e
outro. Outras ganham almas e nem tomam conhecimento disto. Há pessoas
evangélicas que trabalham secularmente
em ambiente hospitalar. Todos os dias elas tem acesso aos leitos e prega o
Evangelho aos enfermos. Apresenta-lhes rapidamente a Palavra de Deus,
mostra-lhes Jesus como o único que pode lhes trazer a salvação, faz um apelo
para que o enfermo o aceite como único salvador e ora por eles. Às vezes eles
aceitam outras vezes não. Mas elas não desistem. Prega o Evangelho a todos, não
sabe quantas almas já ganhou para Cristo. Não se torna um grande pastor, com
uma multidão de seguidores após si. Quem realmente não quer se engrandecer
diante dos homens e das mulheres, Não precisa ser nomeado para poder fazer uma
grande obra para o Senhor. Só tomará conhecimento de quantas almas ganhou
apenas na gloria. E o melhor: não tem do que se gloriar da quantidade de almas
que já ganhou. Sabe que não passa de um servo inútil, que está fazendo não mais
que a sua obrigação. As almas só lhe serão computadas para efeito de galardão!
Quantidade, no aspecto de “contabilidade de almas”, não
significa nada! Não nos compete contá-las para usar seu número para nossa
própria glória. Aliás, esta parece ser a grande causa do castigo divino sobre o
recenseamento promovido por Davi em Israel (2 Sm 24).Que explicação melhor
encontraríamos para tão grande castigo, senão o orgulho de ser líder de uma igreja
numerosa.
A maioria das pessoas está, no desempenhar de seus
“ministérios”, querendo na verdade ser maiores ou melhores que o próprio
Mestre. Este é o problema central da coisa! Queremos ser maiores e melhores!
Não adianta atrair ninguém para si ou supostamente para
Cristo, se não temos condições de guiar os que se achegam à luz da Palavra de
Deus. Se alguém tem atraído multidões, mas com sua natureza bruta e sem amor
afasta estas multidões da pura Palavra de Deus, não está ganhando ninguém para
Cristo!
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